Escola goiana aposta em interdisciplinaridade e criatividade para recuperar aprendizagem

Planejamento pedagógico tem contribuído no desenvolvimento de ações mais assertivas (foto: EE Valeriano Alves de Oliveira/divulgação)
A última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelou que a recomposição da aprendizagem é um dos principais desafios das redes públicas de ensino. Para superar este cenário, a Escola Estadual Valeriano Alves de Oliveira, localizada em Indiara, região sul de Goiás, tem apostado em métodos baseados em evidências para identificar o estágio de cada estudante e adotar iniciativas ainda mais assertivas. Avaliações diárias após conteúdos trabalhados em sala de aula, além de provas mensais e bimestrais, fazem parte da rotina. Notas, frequência, comportamento e rendimento são itens considerados.
Parceira do programa Jovem de Futuro desde 2012, a unidade atende 780 estudantes – entre Ensino Fundamental 2 (do 6° ao 9° ano) e Ensino Médio (EM), além de Educação de Jovens e Adultos (EJA) Técnico e EJA prisional. Desse total, 400 jovens estão matriculados no EM, nos períodos matutino e vespertino. “Somos uma escola muito afetuosa, onde 90% dos professores estudaram aqui. E podemos afirmar que a metodologia aplicada pelo Jovem de Futuro tem feito a diferença. Deu e dá certo”, revela a coordenadora pedagógica, Luciana Martins.
O período com salas de aula fechadas durante a pandemia resultou em um cenário de retrocesso no desenvolvimento de habilidades e competências essenciais. Diante disso, no momento do retorno às aulas presenciais, em novembro de 2020, a direção da escola mapeou as principais carências de cada ano e série. Linguagens e Matemática foram as disciplinas em que os estudantes apresentaram mais defasagem. “Além de todo o cenário pedagógico, vimos que muitos estudantes passaram a trabalhar para ajudar financeiramente em casa. Foi mais difícil trazê-los de volta. Outros, perderam o estímulo. A necessidade de garantir o presente tirou muitos sonhos para o futuro”, conta a coordenadora.
Material de apoio ajustado, “aulões” e aulas compartilhadas
Era preciso ir além. Pouco depois, em meados de fevereiro de 2021, a escola recebeu o material de recomposição da aprendizagem, enviado pela Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc-GO), organizado em textos, sugestões de filmes e atividades. “Separamos por área, e cada grupo docente analisou o material correspondente. Optamos por adequá-lo conforme as nossas necessidades. A continuidade avaliativa torna o fluxo mais eficaz e adaptado”, revela Luciana.
No início deste ano letivo, o mapeamento indicou Matemática e Física como pontos críticos. A nova aposta, então, foi na interação e ajuda mútua entre estudantes para ajudar na recuperação de conteúdo. Em Matemática, por exemplo, as tarefas passaram a ser realizadas em grupos compostos por estudantes de diferentes níveis. “Quem sabe mais ajuda quem sabe menos”, explica a coordenadora. Os conteúdos ainda são reforçados com atividades extras para serem resolvidas em casa.

“Aulão” de Língua Portuguesa e Literatura (foto: EE Valeriano Alves de Oliveira/divulgação)
Os “aulões” reúnem até cinco turmas no mesmo espaço. Ocorre com Língua Portuguesa e Literatura, por exemplo, com muita música e descontração durante duas horas. Já as “aulas compartilhadas”, acontecem em formato similar, mas com turma única. Isso é possível quando um conteúdo abrange pontos comuns entre duas disciplinas, como acontece em probabilidade genética, por exemplo, que reúne Matemática e Biologia, os docentes planejam as aulas em parceria.
“Mostramos para os nossos estudantes que todo conteúdo é integrado, embora cada um apresente necessidades diferentes. Isso fortalece a educação, e a escola fica mais movimentada. Nossos professores planejam e ministram aulas juntos. É mais trabalhoso, mas tudo é feito em respeito às aprendizagens. É um trabalho de formiguinha. Precisamos avançar de forma continuada, mas o resultado já é positivo”, analisa Luciana. Prova disso é que as notas do 3° bimestre em Exatas melhorou em todas o Ensino Médio, o que fez a escola mudar a rota e retomar o foco para Linguagens.
Esses modelos têm alcançado resultados positivos tanto no desempenho dos estudantes como na frequência. Houve melhoras na proficiência e na participação, além de queda nas faltas, como indicam os resultados das avaliações formativas e somativas, ao final de cada bimestre. A receita que deu certo também foi replicada em algumas aulas de Projeto de Vida, que abordam o futuro dos jovens e servem de apoio para que eles possam planejar os próximos passos, seja no ensino superior ou no mundo do trabalho.

“Aulão” instrucional sobre vestibular e ensino superior (foto: EE Valeriano Alves de Oliveira/divulgação)
Inovação: A tecnologia como aliada do saber
Em Química, a novidade para os estudantes da 3ª série do Ensino Médio foi idealizada pela professora Leicy Kelly com o apoio da tecnologia. Há oito anos na escola, ela criou um jogo on-line da memória, com foco em funções orgânicas. E a aceitação foi imediata. “Desenvolvi em 2021, e coloquei em prática neste ano letivo. Foi uma das atividades de recomposição que temos trabalhado”, comenta.

O jogo da memória “Funções Orgânicas” (foto: EE Valeriano Alves de Oliveira/divulgação)
Os alunos gostaram da ferramenta e, rapidamente, passaram a criar disputas durante as aulas para realizar as atividades em menos tempo.
Arte e Busca Ativa
Além das ações voltadas à aprendizagem, a escola mantém ações de acolhimento. O objetivo é oferecer espaços de expressão para estimular a participação dos estudantes mais introvertidos. É o exemplo do “Dia D de Arte na Escola”, que ocorreu em maio deste ano. Na ocasião, os estudantes mais conectados à temática puderam expor suas produções, explicar as próprias obras e promover oficinas. A escola foi dividida em cinco espaços, um para cada linguagem artística: desenho, pintura, música, leitura/interpretação/poesia e fotografia. “Foi um projeto que constava no Plano de Ação no Sigae (plataforma que dá suporte à implementação do Circuito de Gestão, dentro do programa Jovem de Futuro). O objetivo foi alcançar aqueles jovens mais tímidos e calados, que mostram muito talento para a arte. Esses estudantes foram os verdadeiros mentores desta ação”, lembra Luciana.

Estudantes expõem e apresentam desenhos durante a programação do “Dia D de Arte” (foto: EE Valeriano Alves de Oliveira/divulgação)
A Busca Ativa é outro ponto de destaque na rotina da escola e tem o apoio de “estudantes líderes”. Fruto da parceria com o Jovem de Futuro, a ação permanente conta, atualmente, com 25 jovens (14 pela manhã e 11 à tarde), que vão a campo para identificar, localizar, dialogar e tentar trazer de volta para escola colegas que deixaram de frequentar a sala de aula por algum motivo. “Eles são empenhados. Depois de passarem por algumas capacitações, assumem essa responsabilidade com a escola e chegam em lugares que os professores não alcançam”.

Painel na escola fortalece palavras-chave à aprendizagem e acolhimento (foto: EE Valeriano Alves de Oliveira/divulgação)