Webinário debate relações étnico-raciais e de gênero na escola pública
Encontro promovido pelo Instituto Unibanco em parceria com a UNIperiferias contou com o pré-lançamento do livro produzido por ambas instituições
No dia 24 de novembro, o Instituto Unibanco e a UNIperiferias promoveram o webinário Educação das Relações Étnico-Raciais e de Gênero na Escola Pública. O encontro, transmitido ao vivo pelo canal do Instituto no YouTube, marcou o pré-lançamento do livro Escrevivendo diálogos com a escola pública: por um projeto de educação antirracista e democrática, que estará disponível no site da UNIPeriferias a partir de dezembro. A obra reflete sobre interseccionalidade de raça e gênero na escola e sobre a influência no trabalho da gestão escolar nas práticas docentes, na autoestima e nas trajetórias das estudantes negras e periféricas.
Com abertura de Tiago Borba, gerente de Planejamento e Articulação do Instituto, o evento teve a participação de André Gomes, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e pesquisador da UNIperiferias; Lady Christina de Almeida, professora de Sociologia da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc/RJ) e pesquisadora da UNIperiferias; Marcelly Nascimento Thiengo de Lima, estudante de filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e afrografiteira; Maristela Lyrio, diretora-geral do CIEP 358 Alberto Pasqualini; e o estudante Lucas Vasconcellos. A mediação do debate ficou a cargo de Fabíola Camilo, coordenadora de Articulação do Instituto.
Abrindo a conversa, Tiago Borba refletiu sobre a interseccionalidade de raça e gênero na escola e influência do trabalho da gestão escola nas práticas docentes, na autoestima e nas trajetórias dos estudantes e das estudantes negras e negros periféricas. Para ele, fortalecer a educação para as relações ético-raciais nas escolas e na rede é um dos caminhos para consolidar uma agenda de equidade racial na educação.
“Não existe educação de qualidade com desigualdades”, enfatizou.
Já Fabíola Camilo iniciou a mediação do evento trazendo uma citação da autora Kimberlé Williams Crenshaw, estudiosa da teoria crítica da raça sobre a conceituação de interseccionalidade como uma forma de identificar como o racismo, o patriarcalismo e a opressão de outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas das mulheres, raças, etnias, classes e outros. Para ela, essa temática é imprescindível para compreensão do cotidiano e das relações escolares.
“Isso traz essa dimensão do debate de raça e gênero para o campo da educação como algo fundamental para compreender que caminhos são possíveis para mitigar as desigualdades e construir uma escola pública mais democrática”, afirmou, apresentando em seguida o estudo realizado pela UNIperiferias e pelo Instituto sobre os resultados de práticas antissexistas e antirracistas em escolas públicas pelo Brasil.
André Gomes, por sua vez, aprofundou e discutiu os dados do estudo. Realizado em 2020-2021, devido a pandemia, a pesquisa foi feita de forma remota e presencial, com formulários online e encontros em 15 escolas com gestores, professores e estudantes. Para o pesquisador da UNIperiferias, o diferencial foi justamente trazer o dado e ouvir o sujeito sobre a sua ação. Entre os achados do levantamento, foi identificado que 50% dos gestores escolares são brancos, 16,7% são pretos e 33,3% são pardos. Segundo ele, o dado reflete a falta de diversidade nos cargos de gestão, que deveriam ser mais ocupados por pessoas pretas, indígenas e LGBTQIA+.
“Será que a gente não precisa rever esses espaços de poder?”, questionou.
Maristela Lyrio falou sobre a sua experiência na gestão do CIEP 358 Alberto Pasqualini, uma escola localizada no bairro da Luz, periferia de Nova Iguaçu (RJ). Nesse contexto da pandemia, o afastamento da escola ampliou as desigualdades e, diante das diversas realidades e cenários, os profissionais da escola desenvolveram uma série de estratégias para garantir o máximo da aprendizagem dos alunos de forma remota. Apesar do grande esforço, os resultados não foram suficientes, tornando necessário um grande trabalho de recuperação. Ela destacou a importância do protagonismo escolar, por meio do grêmio estudantil, dos representantes de turma e do grupo LGBTQIA+, nesse processo.
“Eu acredito que 2022 vai caminhar melhor”, afirmou, esperançosa.
Em seguida, Lady Christina de Almeida propôs enxergar a escola como um lugar de pluralidade e diversas identidades. Para a socióloga, é preciso tornar os estudantes, principalmente os periféricos, elementos centrais no desenvolvimento e construção de narrativas, pesquisas, políticas públicas educacionais e práticas pedagógicas. Para tanto, é imprescindível combater posturas preconceituosas, racistas, homofóbicas e sexistas nas escolas, reconhecer as diferentes identidades presentes no ambiente escolar, estabelecer uma escuta sensível e práticas pedagógicas antirracistas.
“Não existe educação sem afeto, a relação afetuosa, a escuta sensível é essencial”, pontuou.
Assim como André, a pesquisadora também apresentou alguns achados da pesquisa realizada pela UNIperiferias e pelo Instituto, que apontou que a maior parte dos estudantes que participaram de forma remota eram mulheres negras (35,42%), seguidas pelos homens negros (27,09%). Além disso, ela destaca que 97,92% dos alunos acreditam que os debates sobre relações raciais e de gênero na escola foram importantes e influenciaram as perspectivas para o futuro.
Para Marcelly Nascimento Thiengo, ex-aluna de escola pública, a sua experiência com os debates de raça e gênero, ainda no período do Ensino Médio, está alinhada aos dados da pesquisa. Para ela, as ações das quais participou foram essenciais para mudar a sua forma de ver o mundo, saindo de uma perspectiva individualista e indo para uma visão coletiva. Ela destacou que esse contato com as temáticas influenciou a escolha do seu curso de graduação e trouxe os debates para dentro de casa, levantando questionamentos entre os familiares e despertando uma reflexão, como no caso da vivência de sua mãe enquanto uma mulher negra e doméstica.
“Eu acredito que afetou a maneira que a gente vivia com as nossas vidas, gerando uma sensação de acolhimento”, afirmou.
Ainda sobre os debates sobre raça e gênero no Ensino Médio, Lucas Vasconcelos falou sobre a importância deles para aprofundar e trazer conhecimentos, mostrar a potência do jovem negro, trabalhar a autoestima e aceitação.
“Abriu os meus olhos, me fez acreditar, ter vontade de viver, lutar, seguir em frente, acreditar que é possível e que há um futuro além dali daquele colégio. Graças à professora Neide, aos debates, à força de vontade dela de nos ensinar e mostrar um outro futuro, ela estourou essa bolha e mudou a nossa realidade completamente. Mudou meu futuro e de muitos outros jovens do colégio”, finalizou.
Por fim, Lady Christina de Almeida apresentou o sumário do livro Escrevivendo diálogos com a escola pública: por um projeto de educação antirracista e democrática, que será lançado em dezembro.
“O livro é uma produção coletiva de professores negros que propõe ações de pesquisa em prol do debate ético-racial e de gênero nas escolas públicas. E conta com a produção de artigos sobre a importância da escola antirracista e democrática nos tempos atuais, sobretudo no período pós-pandemia”, explicou.
O webinário Educação das Relações Étnico-Raciais e de Gênero na Escola Pública está disponível na íntegra no canal do Instituto Unibanco no YouTube:
Seleção de diretores escolares: desafios e possibilidades
No dia 1 de dezembro, às 16h, o próximo encontro do ciclo Educação para Juventudes, “Seleção de diretores escolares: desafios e possibilidades”, marca o lançamento da publicação de mesmo nome, segunda edição da Coleção Políticas Públicas em Educação, produzida em parceria com a Universidad Diego Portales (UDP), do Chile. Para debater o assunto, o webinário contará com abertura de Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco, e participações de: Gonzalo Muñoz, pesquisador adjunto da Faculdade de Educação e do Programa de Liderança Educacional da UDP; Cynthia Paes de Carvalho, coordenadora da Pós-Graduação em Educação da PUC-RJ; e Elizabete Araújo, assessora especial da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc-CE). Com tradução em libras, o encontro será mediado por Raquel Souza Santos, responsável pela Coordenação de Monitoramento e Avaliação do Instituto Unibanco, e transmitido ao vivo pelo canal do Instituto no YouTube: https://youtu.be/eQ74dcRr_04