Com apoio do Instituto Unibanco, Unesco lança volume X da Coleção História Geral da África
Edição em português da publicação produzida pela Unesco foi promovida em painel paralelo ao Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação, em São Paulo

Novo volume da coleção concentra-se na diáspora africana. Crédito: Marco Toresin/UNESCO
A Unesco, com apoio do Instituto Unibanco, do Ministério da Educação do Brasil e da multinacional MTN, lançou no dia 29 de novembro a versão em português do Volume X da Coleção História Geral da África (HGA). Reunindo 74 autores de 20 países de todos os continentes, a obra concentra-se em questões relacionadas à diáspora africana e é composta por 72 capítulos categorizados em três seções, sendo disponibilizada gratuitamente.
Como um todo, a coleção representa um grande projeto de pesquisa da Unesco que teve início em 1964 e tem como objetivo reparar o desconhecimento internacional sobre a história da África, buscando construir uma visão ampla e plural do continente. No Brasil, o lançamento dos primeiros volumes da coleção, que aconteceu em 2010, foi um importante marco para promover e valorizar as raízes africanas do país.
O lançamento do novo volume foi realizado durante a terceira edição do Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação, que aconteceu de 29 de novembro a 1º de dezembro de 2023, em São Paulo. Na ocasião, houve um painel de discussão, que teve como objetivo apresentar o conteúdo da publicação e explorar seus potenciais em enfrentar os desafios socioeconômicos e políticos que afetam as comunidades afrodescendentes, particularmente no Brasil.
Para Marlova Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil “a Coleção História Geral da África ilumina a narrativa sobre a potência do continente africano, ao mesmo tempo que nos informa sobre outras narrativas a respeito da diáspora”, afirmou. Lembrando que o Brasil é a maior diáspora negra fora da África, ela destacou o potencial da reconstrução da história para a nossa sociedade. “Nós acreditamos no poder da construção de novas narrativas sobre a história da África, sobre o papel que os africanos desempenharam no Brasil, na história do Brasil, sua contribuição para a diversidade, para a cultura, em termos de riqueza, diversidade e pluralidade”. E para ela, a reflexão deve motivar ações e políticas públicas. “Estamos comprometidos para fazer avançar uma agenda que é de igualdade e inclusão. Não basta lutar contra o racismo se não tivermos os programas que façam avançar uma agenda de inclusão”.
Além de Marlova, também fizeram parte da mesa de abertura Angela Melo, diretora de Inclusão Social e Juventude no setor de Ciências Humanas e Sociais da Unesco; Zara Figueiredo, secretária de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação (Secadi/MEC); e Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco.
Para Ricardo Henriques, a História Geral da África como um todo “é uma publicação para se pensar o que é uma sociedade como a brasileira, não só na disciplina de história. Permite uma reflexão analítica bastante qualificada sobre o que são as variáveis que ainda estão em jogo nesse mundo contemporâneo quando olhamos para a África”.
Ricardo destaca que a obra “reposiciona vários pesos sobre poder, comunidades, relações humanas, variáveis que estão sob tensão acerca do arranjo de uma sociedade que está ficando intolerante, incapaz de produzir pontes. Há algo que está por trás da Lei 10.639, da história da cultura africana e afro-brasileira, que aporta um conjunto de valores que convergem com a referência da tolerância, da interação, da valorização do outro – características que estamos perdendo muito no campo da democracia”.
Zara Figueiredo, em sua fala, lembrou que o lançamento acontece em um momento ímpar, no qual a sociedade brasileira teve a recriação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) e o aniversário de 20 anos da Lei 10.639. “Essa edição 10 diz muito para nós. Não é só uma contribuição para os pesquisadores ou para o ensino superior. Ela diz respeito a recontar a história e colocar a história no seu devido lugar, além de dizer respeito também à educação básica. Estamos falando aqui de um compromisso ético de repensar as bases desse contrato social, na medida que esse livro possibilita um novo olhar sobre a formação de professores e, com isso, nós estamos entrando num outro aspecto, que é o legal, que é a efetivação da Lei 10.639”.
Em seguida, o painel de debate reuniu: Valter Silvério (Universidade Federal de São Carlos – UFSCar), Suelaine Carneiro (Geledés), Iraneide SIlva (Associação Brasileira de Pesquisadores Negras e Negros – ABPN), Augustin Holl (presidente do Comitê Científico Internacional da Coleção História Geral da África) e Valcicléia Silva-Santos (editora do volume X da Coleção História Geral da África).
Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação
A terceira edição do Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação abordou a importância de colocar as questões raciais no centro das estratégias do desenvolvimento socioeconômico. O programa do Fórum contou com 19 painéis e 15 eventos paralelos, abrangendo vários tópicos, como a criação de políticas inclusivas; o avanço da igualdade de gênero; o aprimoramento das capacidades da sociedade civil; a abordagem da inteligência artificial e seu papel na perpetuação do racismo; a proteção dos direitos dos povos indígenas; o fortalecimento das cidades, dos espaços cívicos, das comunidades artísticas e acadêmicas; e a alavancagem da filantropia social para lidar com a desigualdade racial.