O que dizem os protocolos de retomada de outros países?
Passado o pico da pandemia da Covid-19 na Europa, muitos países europeus iniciaram a retomada das aulas presenciais e já há um tímido movimento nos países da América Latina e Caribe para a reabertura das escolas. Análise feita pelo Instituto Unibanco em 11 protocolos de retomada elaborados por alguns países mostra que as recomendações mais comuns dizem respeito aos aspectos sanitários, e que o principal órgão de planejamento das ações, mesmo em nações com estrutura federativa, é o ministério da Educação.
Os países foram selecionados por terem já divulgado publicamente documentos em seus sites. As nações mapeadas são bastante heterogêneas entre si, em especial em relação ao nível de desenvolvimento e tamanho de sua população. Grande parte das soluções diz respeito a processos de retomada já em andamento e que representam importantes experiências, casos de Dinamarca, Alemanha, Portugal, Nova Zelândia, México, Curaçao, Anguilla, China e Saint Martin. Em outros países, mesmo sem terem retornado, planos e cronogramas já foram divulgados, como no Uruguai e nos EUA. Ainda no caso uruguaio, foi desenvolvida uma solução voltada para o apoio psicológico para as famílias durante a quarentena, com foco na melhoria da convivência dos membros da família dado o tempo prolongado e que tende a se estender por mais tempo.
O Instituto Unibanco encomendou ainda a tradução completa de alguns desses protocolos (Estados Unidos, Dinamarca, França, Nova Zelândia e China). O link poderá ser acessado ao final desse texto. A seguir, alguns tópicos mais comuns nos documentos: Cronograma e Gestão da Retomada Quanto ao cronograma e a gestão da retomada, não existe um modelo único adotado pelos países. Dinamarca e Alemanha iniciaram a retomada das aulas em abril, os demais programaram o retorno ao longo do mês de maio e início de junho. A maioria dos países adotou retorno gradual das turmas com divisão pelas etapas de ensino. Dinamarca, Anguilla, San Martin e Curaçao optaram por abrir inicialmente os centros de educação infantil, em especial as creches, avançando gradualmente para os demais níveis de ensino. Exceto Curaçao, que determinou que os estudantes de ensino médio que farão os exames nacionais retornassem as aulas a partir de dezoito de maio. San Martin programou para setembro a volta às aulas dos demais níveis de ensino. China, Portugal e Alemanha seguiram em direção contrária, priorizando a retomada das aulas presenciais dos estudantes dos anos finais do Ensino Médio, com o objetivo de assegurar a realização das avaliações finais, a conclusão desta etapa de ensino e a possibilidade de ingressar no ensino superior. Alemanha adotou uma medida menos conservadora: além do Ensino Médio, também orientou que os estudantes dos anos finais do Fundamental I e II retomassem as aulas. Nova Zelândia, México e Uruguai não implementaram um cronograma de retomada gradual pelas etapas de ensino. No Uruguai, por exemplo, no início de maio, nas zonas rurais em que não havia casos novos de contágio, as aulas foram liberadas, com a ressalva de se respeitar a realidade de cada centro educacional que organizou o retorno de modo gradual. A partir de junho o reinício das aulas presencias será liberado para todo o país e a todas as etapas de ensino. Mas levar os filhos ou não para as escolas será uma opção dos pais e responsáveis. Chama a atenção o caso da Nova Zelândia, que adotou medidas bem flexíveis de retorno, mas com um monitoramento e rastreamento muito rigoroso, que identifica e toma medidas rápidas diante de uma confirmação. Nos Estados Unidos, o Centers for Disease Control and Prevention elaborou estratégias para reabertura de creches, guia para gestores escolares de Fundamental e Médio e criação de um guia com as perguntas mais comuns (FAQ). Cada estado tomou decisões para o período de quarentena, dado o sistema federativo dos EUA. Contudo, 48 dos 50 estados orientaram o fechamento das escolas até o início de junho, quando termina o ano letivo e iniciam as férias escolares. O movimento de retomada das aulas presenciais se intensificará à medida que a escala de contágio for diminuindo nos países. Na América Latina e Caribe, ainda é grande o número de países, 25 no total, que não estavam planejando a retomada das aulas presenciais, de acordo com levantamento feito pela Unesco. Peru e Paraguai, por exemplo, anunciaram que as escolas permanecerão fechadas até dezembro de 2020, mas também não publicaram ainda diretrizes de como o ano letivo de 2020 será adaptado ou readequado. Por outro lado, o Ministro da Educação da Argentina fez um pronunciamento no dia 29 de maio declarando que, após as férias de inverno, existe a possibilidade de abertura das escolas nas províncias onde não seja detectado circulação de Covid-19 em um período de 45 dias.
Aspectos sanitários e organização dos tempos Os documentos dão maior enfoque às medidas sanitárias. Indicam as adequações que precisam ser realizadas nas escolas, como a limpeza rigorosa das instalações antes do retorno das aulas, colocação de dispensadores de álcool em gel em pontos estratégicos e/ou instalação de lavatórios. Durante as aulas, lavagem com água e sabão dos objetos compartilhados, bem como higienização constante de corredores, maçanetas, salas de aulas, espaços de recreação, quadras esportivas, bibliotecas, banheiros, etc.; além de manter as áreas comuns fechadas, como salas de aula e refeitórios, com ventilação, abrindo as janelas para a circulação do ar. No que diz respeito aos cuidados pessoais, de modo geral, indicam o distanciamento de 1,5m a 2m entre as pessoas, uso de máscaras no percurso da casa até a escola e nos ambientes comuns e a lavagem das mãos em diversas circunstâncias (antes e depois de comer, depois de espirrar ou tossir, depois de voltar das áreas comuns). Também aparecem recomendações como reduzir o número de estudantes a 15 por turma, no máximo. A entrada e saída das pessoas deve ser escalonada por horários e turmas, além de fazer uso de diferentes portões, quando possível. Realizar pequenos intervalos, de preferência mantendo os estudantes em sala de aula, é outra sugestão que aparece em alguns documentos. A China recomendou a não utilização dos refeitórios, Portugal, que o uso seja realizado em horários alternados e Uruguai, que o sistema de self-service seja substituído por pratos feitos. Por fim, sugerem que o horário das aulas não coincida com o horário de pico, evitando que a superlotação dos sistemas de transporte público e até mesmo nas vias. Orientações Pedagógicas Entre os documentos analisados, apareceram orientações pedagógicas somente nos protocolos da China e da Alemanha. Esse último focou as orientações na realização de provas de acesso às universidades e institutos técnicos ou tecnológicos e, em segundo plano, nos exames para o ingresso no equivalente ao nosso Fundamental II. Na China enfatizou-se a necessidade de os professores promoverem momentos de acolhimento para que possam compartilhar entre si seus sentimentos e pensamentos diante da situação epidêmica, garantindo que seu estado emocional seja respeitado. Também recomendou a manutenção do aprendizado de alunos que estejam em isolamento social ou que, por algum motivo, ainda não possam participar das aulas presenciais. Não foi possível verificar, nos protocolos destes dois países, orientações em relação à reorganização curricular e conteúdo a serem priorizados. Nos documentos da Nova Zelândia, México e EUA há recomendação para a garantia do ensino a distância para os estudantes que não possam retomar as aulas. O México segue sugerindo o uso da plataforma “Aprendo em casa”, utilizada por docentes e estudantes durante a pandemia. Apoio ao planejamento de redes Com o objetivo de ajudar gestores de sistemas educacionais e de escolas a melhor planejarem a retomada, o Instituto Unibanco disponibilizou também outros documentos e textos que podem ser úteis: Protocolos traduzidos: A pedido do Instituto Unibanco, a consultoria Vozes da Educação sistematizou cinco protocolos de retorno escolar, elaborados por países de 4 continentes. Foram selecionados cinco países: Estados Unidos, Dinamarca, França, Nova Zelândia e China. À exceção dos EUA, que ainda não reabriu suas escolas, o enfoque foi dado para aqueles que já retomaram as aulas presenciais e que possuíam informações de qualidade disponíveis. A inclusão da França se deu em virtude da necessidade de fechamento de algumas escolas, logo após sua reabertura.
Recomendações de organizações internacionais: O Instituto Unibanco também divulgou recentemente levantamento realizado sob encomenda pela consultoria Vozes da Educação, que sistematiza recomendações de diversos relatórios internacionais para reabertura das escolas. As recomendações referem-se a três momentos de reabertura das escolas: antes (o que deve nortear a decisão de retorno das aulas presenciais), a preparação e após. A proteção do processo de aprendizagem e de grupos vulneráveis e o reforço das políticas de bem-estar são alguns dos pontos de atenção em comum entre os documentos. Primeira análise sobre o retorno em alguns países: No Observatório de Educação, análise feita em maio mostra quais foram os os primeiros primeiros movimentos de países que estão organizando a retomada das aulas presenciais, e as orientações das organizações multilateriais de educação, saúde e trabalho.