Webinário do Instituto Unibanco debate educação para equidade racial e lança e-book sobre relações étnico-raciais na educação pública
Encontro virtual contou com a presença de especialistas e foi transmitido ao vivo pelo Youtube do Instituto
Na última quarta-feira, dia 6 de outubro, o Instituto Unibanco, em parceria com o Instituto Maria e João Aleixo, promoveu o webinário “Pandemia, Território e Educação para Equidade Racial” – que compõe a série Educação para Juventudes. O evento, que foi transmitido ao vivo pelo YouTube do Instituto Unibanco, contou com a abertura de Tiago Borba, gerente de Planejamento e Articulação Institucional do Instituto Unibanco; e participação de Maria Rebeca Otero Gomes, coordenadora do setor de educação e representação da UNESCO no Brasil; Jaqueline Lima Santos, consultora de projetos do Geledés – Instituto da Mulher Negra; Andreia Martins, diretora da Redes da Maré; e Fábio Borges, pesquisador na Universidade das Periferias (UNIperiferias). Com tradução simultânea em libras, a mediação do webinário ficou a cargo de Fabíola Camilo, coordenadora de Articulação do Instituto.
Tiago Borba abriu a mesa de debates contextualizando o tema.
“Hoje vamos tratar de um assunto muito importante: as desigualdades educacionais a partir do contexto da pandemia. Sabemos que as desigualdades foram muito acentuadas com a COVID-19 e temos diversos estudos que mostram os impactos da pandemia no curto e médio prazo, analisando a vivência dos estudantes nesse processo de aprendizagem durante esses quase dois anos de pandemia. Tempo este, em que o Brasil teve uma das maiores paralisações de ensino em salas de aula do mundo. Com isso, talvez mais do que nunca, são necessárias ações urgentes, com intencionalidade, para o enfrentamento das desigualdades na rede pública de educação, visto que a pandemia afetou seriamente os estudantes que já estavam em situação de vulnerabilidade social, especialmente jovens negros e negras”, comentou.
Em seguida, Fabíola Camilo iniciou a mediação do evento e abordou o lançamento do E-book Ówe – demarcando identidades, suleando novos olhares educacionais: a centralidade de dados raciais para a educação.
“Hoje abordaremos grandes reflexões sobre esse momento de pandemia e como as desigualdades foram geradas e aprofundadas a partir desse cenário. Teremos, então, um debate interseccional em questão de raça, gênero e classe – abordando o comprometimento do direito à educação de estudantes negros e negras nesse período pandêmico, que se estende até o atual momento no Brasil e América Latina. Também teremos o lançamento no e-book, em parceria com a UNIperiferias, que traz a discussão sobre a centralidade dos dados raciais”.
Maria Rebeca Otero, por sua vez, refletiu sobre as desigualdades aumentadas pela pandemia a partir do Relatório de Monitoramento Global da Educação da UNESCO.
“A pandemia é considerada nas Nações Unidas, desde sua criação, a pior crise sistêmica. O impacto da crise atinge países e populações de maneira desigual, afetando de forma mais contundente os mais vulneráveis e colocando em risco o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – que é um marco que compõe 17 objetivos firmados por 195 países. Na educação, pelo menos 147 países tiveram as escolas fechadas, o que representa mais de 1,4 bilhões de crianças e jovens afetados – cerca de 86% da população infantil mundial”, pontuou.
Já Andreia Martins, contribuiu com o debate trazendo dados estatísticos do impacto da pandemia na educação no complexo da Maré. “De acordo com as características demográficas e de constituição histórica, a Maré pode representar muito bem o que tem acontecido nas outras favelas; não só na cidade do Rio de Janeiro, mas também nas periferias brasileiras. A Maré possui 50 escolas públicas, cerca de 20 mil matrículas, e tem predominância de população jovem, com 62% de pretos ou pardos. Um dado importante para se discutir aqui é que somente 36% da população da Maré declara ter acesso à internet”. Andreia pontuou que antes da pandemia, a população da Maré já estava em um momento precário.
“Ter cinquenta escolas públicas não quer dizer que há ensino de qualidade”, completou.
Jaqueline Lima Santos apresentou o estudo “O direito à educação de meninas negras em tempos de pandemia: o aprofundamento das desigualdades”, e comentou os resultados da pesquisa.
“Fizemos essa pesquisa ao nos sentirmos provocados pelos diferentes estudos realizados no período de pandemia. Nós tivemos muitos estudos importantes que evidenciaram o aprofundamento das desigualdades na pandemia, as problemáticas vivenciadas pelos estudantes, docentes e comunidades escolares. No entanto, havia um incômodo porque esses estudos não trabalhavam a perspectiva interseccional, ou seja, não cruzavam as variáveis de raça, gênero e acessos remotos. Enquanto organização da sociedade civil que atua há 33 anos em defesa dos direitos humanos, especialmente da população negra e das mulheres em geral, nós sabemos que, em momentos de aprofundamento das desigualdades, o grupo mais afetado geralmente é a população negra, indígena e não branca”, analisou.
Fábio Borges debateu sobre as ações de educadores e o lançamento do e-book Ówe – Demarcando Identidades.
“Nosso e-book surge no momento em que revisitamos as pesquisas dos anos anteriores e percebemos a necessidade de trazer para o debate os dados quantitativos. Nós sabemos que todos os professores lidam muito bem com a estatística, economia e matematização da vida; mas que olha com uma certa desconfiança o emprego de dados internos ou externos na prática educativa. Durante a pesquisa, notamos que é muito importante trazer os dados quantitativos de gênero e raça dos estudantes para a prática cotidiana de cada escola, bem como as ações norteadoras da gestão escolar”, pontuou.
O e-book Ówe – demarcando identidades, suleando novos olhares educacionais: a centralidade de dados raciais para a educação está disponível gratuitamente no Observatório de Educação – Ensino Médio e Gestão e no site da Editora Periferias.
O webinário “Pandemia, Território e Educação para Equidade Racial” está disponível na íntegra, no link:
Nunca Me Sonharam
Na próxima quarta-feira (13) o Instituto Unibanco fará uma exibição especial do filme Nunca Me Sonharam, de Cacau Rhoden, em homenagem à semana dos professores. O filme propõe uma reflexão sobre o valor da educação básica brasileira, abordando os desafios atuais, expectativas futuras e os sonhos dos estudantes e docentes que vivem a realidade do ensino nas escolas públicas. A exibição acontecerá às 16h no canal do Youtube do Instituto: https://www.youtube.com/user/institutounibanco